quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

EJA- ARTES- Arte e fantasia

Arte e fantasia
Desde que o homem existe, ele tenta explicar-se e explicar o mundo. Ao fazer desenhos nas paredes das cavernas, ou ao criar mitos, o homem primitivo procurava desvendar os mistérios da natureza e atuar sobre ela. Essa busca de explicações acompanha o ser humano até hoje: o que somos, de onde viemos, para onde vamos, que relação temos com o outro e com a natureza são questões recorrentes na vida de cada um, desde a sua infância.
O ser humano procura respostas a essas indagações de várias formas: observando, pensando, experimentando, entrando em contato com o outro.
Quando procuramos aproximar-nos de uma obra de arte, queremos encontrar na fala de um outro que consideramos especial uma sintonia que nos permita refletir sobre o mundo, entender nosso lugar nele.


Por mais estranho que pareça, a fantasia é um
campo fecundo em que procuramos essas respostas. Ninguém vive sem a fantasia, embora muitos achem que estão longe dela. A fantasia se expressa de formas muito diversas,
mais ou menos próximas da idéia comum de
que ela é uma fuga da realidade. Ela se expressa na necessidade de ouvir e contar histórias - que aparecem na televisão, no teatro,
no livro, no cinema, nas histórias em quadrinhos e às vezes nas pinturas seqüenciadas, como na Via Sacra, por exemplo, mas aparece também nos jogos de loteria, nos sonhos, nos projetos de vida. Podemos dizer que a fantasia é uma forma de desejar alguma coisa, impossível ou possível, que não aconteceu ainda. Este é, por sinal, o conceito mais atual de utopia: algo difícil ou impossível de acontecer por enquanto.

Um belo exemplo dessa interpretação da fantasia está na letra desta composição de Chico Buarque, criada em 1976 e que faz parte do disco Vida. Lembre-se de que ainda estávamos em plena ditadura militar e que as composições de Chico foram das mais censuradas, entre as produções da época.

Fantasia

E se, de repente,
a gente não sentisse
a dor que a gente finge
e sente
se, de repente,
a gente distraísse
o ferro do suplício
ao som de uma canção,
então, eu te convidaria
pra uma fantasia
do meu violão.
Canta, canta uma esperança,
canta, canta uma alegria,
canta mais,
revirando a noite,
revelando o dia,
noite e dia, noite e dia...
Canta a canção do homem,

canta a canção da vida,
canta mais,
trabalhando a terra,
entornando o vinho,
canta, canta, canta, canta...
Canta a canção do gozo,
canta a canção da graça,
canta mais,
preparando a tinta,
enfeitando a praça,
canta, canta, canta, canta...
Canta a canção de glória,
canta a santa melodia,
canta mais,
revirando a noite,
revelando o dia,
noite e dia, noite e dia,
noite e dia, noite e dia...

Atividade 6
Se você tiver oportunidade de escutar a composição, verá que a própria melodia é muito diferente nas duas estrofes. A primeira é bem lenta e em “tom menor”, quer dizer, apresenta-se em tons baixos e apenas dois instrumentos – flauta e violão. A segunda apresenta um ritmo muito mais animado e forte.
Apresentamos abaixo uma série de afirmativas sobre Fantasia. Marque, nos parênteses à frente de cada uma delas: V – se a afirmativa for verdadeira; F – se a afirmativa for falsa.

a ( ) Deve-se fazer da composição, criada em tempo de ditadura, uma leitura política.
b ( ) O poeta convida seu interlocutor a esquecer as dificuldades por meio da música.
c ( ) O tom menor sugere uma conversa intimista, cochichada, que alguém não pode ouvir.
d ( ) O poeta propõe a alguém que, juntos, eles distraiam os elementos autoritários e torturadores.
e ( ) A conjunção e, que inicia o texto, sugere que os interlocutores já tinham começado uma conversa de lamentação.
f ( ) Na segunda estrofe, o artista exorta cada ouvinte a participar da cantoria.
g ( ) O poeta convida cada ouvinte a agir, além de cantar.
h ( ) A repetição, o recurso mais utilizado no texto, sugere a insistência do convite.
i ( ) A repetição de gerúndios e da expressão “noite e dia” sugere que as atitudes e ações têm de ser sempre retomadas.
j ( ) O poema traz mais de uma insinuação de práticas de tortura.
l ( ) O poema traz sugestões de protestos contra a ditadura.
m ( ) A expressão “revirando a noite” pode ser interpretada como “subvertendo a escuridão da censura, do momento político”.
n ( ) A expressão “revelando o dia” pode ser interpretada como “apresentando a luz da liberdade, das ações claras”.
o ( ) O poema sugere que a vida, mesmo com o canto, é um fardo triste.

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